Luiz Carlos Azenha escreveu:
WASHINGTON - A TV Globo está em campanha eleitoral ininterrupta desde a metade de 2006. No início duvido que vocês tenham percebido. Nem nós, nos bastidores da emissora, nos demos conta. Os primeiros "sintomas" foram testemunhados na própria redação da emissora, em São Paulo. Por exemplo, pelo ex-editor do Jornal Nacional, o Marco Aurélio, hoje na TV Record. Na época Marco Aurélio era editor de Economia. Não estou contando nenhum segredo: ele comentou com colegas que havia recebido orientação do chefe, no Rio de Janeiro, no sentido de que "tirasse o pé" de reportagens sobre assuntos econômicos que pudessem beneficiar a campanha de reeleição do presidente Lula.
Estranho, sim, mas nada que pudesse causar alarme. Pensávamos, então, que se tratava de um cuidado editorial para preservar a emissora. Um cuidado justificável, se também fosse aplicado a outros candidatos. Afinal, um dos princípios do Jornalismo é dar tratamento igual a iguais.
Exemplifico: o senador Renan Calheiros tem filho fora do casamento e existe a suspeita de que a criança foi sustentada com dinheiro de um lobista? O fato vai além da esfera pessoal. É relevante para a atuação do senador como agente público. Noticie-se, pois. E que ele seja investigado.
Ora, se é assim com o senador Calheiros, não deveria ser assim, também, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem um filho com uma funcionária da TV Globo? O fato foi noticiado na capa da revista Caros Amigos, em abril de 2000. Tomás nasceu em 26 de setembro de 1991, quando FHC ainda era senador, ou seja, a notícia antecede à candidatura de FHC à presidência da República.
No entanto, já se passaram 16 anos desde o nascimento do menino - e oito desde a capa da Caros Amigos - e essa notícia ainda é sonegada ao público. Quem pediu a transferência da jornalista para a Europa? Quem pagou as contas dela? A TV Globo recebeu favores em troca de ter mantido sigilo a respeito do episódio? Houve duas menções de passagem à existência do filho - uma em reportagem da Folha de S. Paulo, outra no programa do Jô, feita por uma jornalista convidada. Tirando isso é uma não-notícia, talvez a maior sonegação jornalística da História recente do Brasil.
Fast forward para 12 de janeiro de 2007, em São Paulo. Era sexta-feira. Quando aconteceu o desabamento do Metrô, em São Paulo, a TV Record passou a transmitir do local do acidente, ao vivo, sem interrupções. Mas a Globo seguiu com a programação normal. E, por incrível que pareça, a Globonews também.
Um grupo de jornalistas se reuniu em torno dos monitores. Ficamos nos perguntando o motivo daquela situação no mínimo estranha. A Globonews, canal de notícias 24 horas por dia, continuava passando um programa pré-gravado enquanto a TV Record mostrava, ao vivo, usando um helicóptero, cenas dramáticas - inclusive o desabamento parcial do canteiro de obras. Não se tratava de incompetência. Sabíamos que nossa equipe era a melhor da praça. Porém, não se deu a mobilização que é comum em situações como essa.
Fiz plantão sábado e domingo. Foi uma cobertura "modesta", para os padrões da TV Globo.
No domingo, pouco antes do Fantástico, correria. Fomos chamados a reforçar a cobertura do programa sobre o acidente. O que se passou entre o momento do desabamento e a decisão de investir com tudo na cobertura? Impossível dizer. Não foi incompetência da equipe de São Paulo, com certeza. A única explicação razoável é que a cobertura estava subordinada a uma decisão política da emissora, tendo em vista que o acidente poderia causar embaraço - para dizer o mínimo - ao governo de José Serra, do PSDB.
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